Camilo Pessanha
Camilo Pessanha
Água Morrente- Camilo Pessanha
Este poema de Camilo Pessanha, é uma ilustração das várias características do seu estilo e linguagem.
Na analise que vem a seguir, os temas abordados serão:
- A musicalidade e vocalidade dos versos;
- A simbologia e a sensibilidade estética;
- A melancolia e a Efemidade e o desgaste.
Comme il pleut sur la ville.
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.
Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água morrente
1.A musicalidade e vocalidade dos versos;
2- A simbologia e a sensibilidade estética;
3-A melancolia e a Efemidade e o desgaste.
Recursos expressivos
Metáfora: A água é uma metáfora para o fluxo da vida e a transitoriedade. Exemplo: "Água morrente" – a água que se esvai simboliza o passar do tempo e a morte.
Aliteração: A repetição de sons consonantais cria musicalidade e reflete o escoamento suave da água. Exemplo: "água morrente", onde o som do "r" sugere o movimento contínuo da água.
Assonância: A repetição de sons vocálicos também contribui para a sonoridade do poema. A repetição do "o" cria uma cadência suave, enfatizando a ideia de um som que desaparece.
Personificação: A água é tratada como se tivesse características humanas, como a capacidade de "morrer". Exemplo: "Água morrente".
Antítese: A oposição entre vida e morte é sugerida pelo contraste entre a água (vida fluída) e sua morte gradual. Exemplo: a água que "morre" e escorre lentamente.
Esquema rimatico
abab
acac
dede
rima cruzada em todo o poema
É possível concluir que:
Camilo Pessanha reúne neste poema uma série de características do seu simbolismo, um lirismo denso, repleto de ilustrações sensoriais. E ainda uma visão profunda sobre a fragilidade humana.
Analogia com o poema «II pleure dans mon cour» de verlaine ( verleine)
Tradução:
Chora no meu coração
Qual chove sobre a cidade;
Que languidez é então
Que adentra em meu coração?
Ó doce rumor da chuva
Pela terra e sobre os tetos!
Para um coração em tédio,
Ó a cantiga da chuva!
Chora sem qualquer razão
Neste coração cansado.
O quê! Nenhuma traição?...
Este luto é sem razão.
É mesmo a pena pior
Desconhecer o porquê,
Sem ódio e sem todo o amor,
Meu coração a sofrer.
Identifica as três palavras em torno das quais, se desenvolve o poema.
Analisa a dimensão simbólica da composição.
Menciona dois recursos que contribuem para a musicalidade do poema.
1. Três palavras centrais:
- Água: Representa o fluxo da vida e a efemeridade
- Morrente: Refere-se ao processo de morrer lentamente. Exemplo: "Água morrente".
-Degradação, de tudo.
2. Dimensão simbólica:
- A água simboliza o fluxo da vida e sua transitoriedade, enquanto a morte é gradual, representada pela água morrente.
3. Recursos de musicalidade:
- Aliteração: Repetição do som "r" em "água morrente".
- Assonância: Repetição do som "o" em "som que morre".
Feito com chat gpt
A Máquina do Mundo - 2 analogia
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino roucose misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretaslentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerávelpelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentartoda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perderae nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:
“O que procuraste em ti ou fora deteu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivose revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste… vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atingedistância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados
e as paixões e os impulsos e os tormentose tudo o que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeberno sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar
na estranha ordem geométrica de tudo,e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que tantos
monumentos erguidos à verdade;é a memória dos deuses, e o solene
sentimento da morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra faceque vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentesem si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
de Carlos Drummond
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