Bocage

Sonho

De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:

Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
< Morre, não penes mais, ó desgraçado!>>

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:

< Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.>>





Bocage nasceu em Setúbal, em 1756, filho de um advogado e de uma senhora francesa. A influência poética possivelmente veio do próprio lar: Madame Fiquet du Bocage, uma tia-avó do poeta, era uma poetisa ilustre na época e havia vertido para o português a obra do poeta suíço pré-romântico Gesner. Bocage entrou para a Academia Real dos Guardas-Marinhas, em 1783, entregando-se, mais do que aos estudos, à boêmia literária da Lisboa da época, frequentando botequins, sobretudo o Nicola, do Rossio, ao qual o seu nome ficou para sempre ligado, como famoso improvisador de versos.






Era obcecado por Camões, e, como ele, teve vida agitada, envolvido com carreira militar, cheia de viagens. Embarcou para Goa (1786) e serviu na guarnição de Damão (1789). Mais tarde, desertou, embarcando para Macau, e daí regressou a Lisboa em 1790, ano em que foi fundada a Nova Arcádia, na qual ingressou, adotando o nome poético de Elmano Sadino. Dela foi expulso, em 1794, devido ao seu espírito independente, sarcástico e indisciplinado.


Foi libertado em 1799, convertendo-se a uma vida mais regrada

na casa da irmã, Maria Francisca, que o sustentou com trabalhos de tradução.

Marcado pelas atribulações do seu percurso, sua vida terminou precocemente e com um doloroso arrependimento, patente nos seus últimos poemas. Morreu aos quarenta anos, em 1805, bastante arrependido da vida desregrada que havia levado.







A 10 de agosto de 1797, foi acusado de ideias contra a ordem social, expressas na Epístola a Marília, texto antirreligioso, e no soneto dedicado a Napoleão, símbolo do ideal revolucionário da época. Foi julgado por “erro contra a religião” e a Inquisição ordenou que o preso fosse “doutrinado”.








O Pré-romantismo foi um movimento literário que antecedeu o início do Romantismo na Europa, surgindo no final do século XVIII e início do século XIX. Caracterizado por uma maior valorização dos sentimentos e da natureza, o Pré-romantismo refletiu a insatisfação com a razão e o racionalismo predominantes no Iluminismo. 
Alguns dos principais autores do Pré-romantismo incluem William BlakeEdward Young e Robert BurnsPré-romantismo




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